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quinta-feira, agosto 25, 2005

Há dias uma amiga dizia: “Ai se nós soubéssemos 1/10 dos bastidores do mundo do espectáculo…" A minha resposta automática, mas fruto de uma daquelas verdades interiores incontestáveis sobre as quais não reflectimos, foi: “E se nós soubéssemos a vida das pessoas que conhecemos, o que não descobriríamos?”.

Vulgarmente, olho para uma pessoas e penso: “Tu tens um segredo”, mas nunca peço que mo conte. Limito-me a observar, e assim, num jogo de sombras, vou percebendo a forma do segredo.
Esta forma, que tento captar, não é propriamente um meio de satisfazer a curiosidade (pelo menos à partida), mais do que isso, é uma forma de compreensão e tolerância.
Quando não conheço uma pessoa, tento desenhar imediatamente uma sombra abstracta, que me ajude lidar com palavras indelicadas ou gestos agressivos…
Ao longo do tempo vai dando-se outro diálogo.
O outro diálogo, o diálogo que possibilita a amizade é, como a música, feito de notas e pausas. E tal como na música, a pausas são tão (ou mais) importantes que notas musicais.
Daí que os silêncios a dois sejam tão importantes: as palavras não são ditas, não lhes vemos as cores, mas percebemos-lhes a forma. Sim, essas palavras são também sombras.
As pessoas não se unem, verdadeiramente, baseadas em valores de superfície. Como diria Lavoisier, a matéria não se cria ou perde, mas a luz ou a sua ausência pode fundir-se, em todos os seus fotões ou vácuos. Eu acredito que são as sombras que permitem que duas vidas se cruzem e fundam.