|

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Às vezes assisto a conversas que fazem todo o sentido para mim, pois revelam-me aquilo sentia, mas não sabia expressar. Ou melhor, talvez ouvir alguém dizer o mesmo que penso me dê autorização para expressá-lo com a minha voz.

Uma vez deram-me autorização para falar na confiança nos outros. Em abstracto pode parecer uma coisa do tipo sim ou não, mas existem tantas implicações…
Vou começar pelo exemplo mais extremo, no caso de um suicídio, vocês não acham que posso dizer que a pessoa deixou de confiar nas pessoas em geral, desistiu de pedir ajuda porque já ninguém poderia fazer nada para mudar a situação? É natural que não concordem comigo, que digam que não é uma questão de confiança…
Nesse caso, se não concordarem comigo, confiem suficientemente em mim para discuti-lo comigo. Confiar envolverá, neste caso, acreditarem que serei capaz de ter uma discussão civilizada, que saberei ouvir, argumentar ou assentir.
Parece uma coisa banal, mas é raro, as pessoas confiarem uma nas outras para terem discussões civilizadas. Experimentem apoiarem-se num balcão quando têm uma pessoa à vossa à frente, imediatamente ela assume má vontade, em vez do peso da vossa mochila. No entanto, ao mesmo tempo que olha desconfiadamente, mantém-se calada, esperando atacar em vez de falar sobre o assunto civilizadamente.

Ultimamente, a minha experiência tem-me levado a acreditar que a confiança é a unidade de medida da amizade. Tenho muita pena que as pessoas não confiem umas nas outras o suficiente para lhes dizerem o que sentem.
Seria tudo tão mais fácil, se eu ou se tu, parássemos para dizer: “Preciso de atenção”; “Dá-me miminhos”; “Não gostei da tua atitude por isto e por aquilo”; “Sinto isto e não posso evitar ter este comportamento”… (Quantos aborrecimentos não seriam evitados?)
Mas para isso, precisamos de confiar uns nos outros. Confiar que a pessoa vai ter uma boa reacção, vai saber ouvir e juntos vão ajudar-se mutuamente a lidar pacificamente com os sentimentos dos dois.

Podes ter a certeza de que vou tentar confiar em ti que leste aquilo que acabei de escrever…