Quando alguém é detido permite-se-lhe guardar silêncio porque "tudo o que disser poderá ser usado contra si".
Há nessa advertência a intenção estranha de não querer fazer jogo sujo de todo.
"Caso se te escape uma afirmação que te inculpe, ou caias em contradição ou confesses abertamente, essas palavras terão o seu peso e produzirão efeito contra ti: tê-las-emos ouvido, registá-las-emos, tomaremos nota (...) e serão tua responsabilidade.
Qualquer frase que ajude a exonerar-te, em contrapartida, será ligeira e rejeitada, faremos orelhas moucas e como se nada fosse, não contará, será ar, fumo, vapor e em teu favor não produzirá efeito algum."
"O teu rosto amanhã", Javier Marías
É aí que reside a tua beleza…CoimbraNo gato branco que se espreguiça no parapeito da janela do terceiro andar,
Nas notas da melodia rudimentar que a menina se esforça por tocar num velho piano,
Na brancura das sapatilhas, que estão presas às cordas do estendal,
Na rugosidade do muro em que me sento à sombra a escrever,
Nas pessoas que passam carregadas de sonhos e de paixão…
Nas pessoas que não desejam apenas que mais um dia passe, cujo o objectivo de vida não é ter uma casa e um carro…
Nas pessoas que sorriem a desconhecidos e conhecem os donos dos cafés que frequentam…
Em ti, que me observas a escrever aqui sentada e perguntas para ti mesmo quem sou eu, o que faço aqui e por momentos te esqueces de ti mesmo para pensar na rapariga que se apresenta à tua frente e na sua suposta vida.
O que eu faço eu? A resposta é, nem tu imaginarás, o mesmo que tu! Penso no que estarás a pensar…
É isso que nos une durante este segundo…