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domingo, novembro 27, 2005

Porque a tristeza pensada é estruturante.

Então, num súbito ataque de tristeza que me fez muito bem para perceber quem era, consegui chorar.
Juan José Millás, A Ordem Alfabética(murcon.blogspot.com)
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"Tu pareces feliz, tornaste esta conversa leve, agradável, mas de vez em quando aparecem umas nuvens no teu rosto." - disse-me ele.
Depois da minha resposta, a resposta subsequente foi: "Um dia hás-de conseguir fazer com que chovam e essa angústia acalmará. Isso vem o tempo, não te preocupes."
Foram, talvez, as palavras mais acertadas que me disseram, mas ainda estou à espera...

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sábado, novembro 26, 2005


(foto tirada num descampado - pouco estético - e recortada...)

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"And we'll collect the moments one by one
I guess that's how the future's done
How many acres how much light
Tucked in the woods and out of sight"
(Mushaboom, Leslie Feist)

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sexta-feira, novembro 25, 2005

Uma vez disseram-me “A partilha da loucura é um supremo acto de amor”.
Por isso para ti que,

inventas comigo uma constelação, enquanto dormimos com a cabeça fora da tenda;

atendes os telefonemas de amigos com "O número que marcou não está atribuído";

crias personagens imaginárias para nós representarmos;

te ris das minhas imitações e piadas menos conseguidas;

fazes os funerais às coisas mais inacreditáveis (desde o peixe morto à comida fora do prazo);

és capaz de dizer que sou linda, quando o corte de cabelo não ficou bem e a roupa não assenta;

fazes um esforço por ouvir as músicas estranhas que vou buscar à net;

ouves as minhas lágrimas e as preenches de palavras doces,

conheces o lado mais negro da luz que me ilumina o rosto e ainda assim gostas de mim...


obrigada

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domingo, novembro 20, 2005

Saudade
Em alguma outra vida, devemos ter feito algo de muito grave, para sentirmos tanta saudade...
Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa,
Dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe,
Saudade de uma cachoeira da infância,
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais,
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu,
Saudade de uma cidade,
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem estas saudades todas.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar no quarto e ela na sala, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor,
Ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi à consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre culpada,
Se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet,
A encontrar a página do Diário Oficial, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros,
Se ele continua preferindo Malzebier, se ela continua detestando Medonhas,
Se ele continua amando, se ela continua a chorar até nas comédias.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos,
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento,
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música,
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
É não saber se ela está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que eu estive sentido enquanto escrevia
E o que você provavelmente estará sentindo depois que acabar de ler.
Miguel Falabela
citado em The book of shadows

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sábado, novembro 19, 2005

Todos os meus amigos conhecem o meu ódio pessoal ao conceito do "Kê frô?".
Acho que o gesto de oferecer uma flor fica vulgarizado, materializado... O encanto está, para mim, nos "gestos sussurrados ao ouvido". E sinceramente tanto carregar um desses objectos (com aquele papel de plástico característico, mesmo aquela flor tão demasiado perfeita, tão de estufa) me parece mesmo o "kitsch" absoluto (gosto desta palavra artística para piroso) .
No outro dia, conheci o "anti-kitsch". Tinha namorada ao lado e estava a oferecer-lhe uma flor apanhada nesse momento uma flor do tamanho do meu polegar, sem laços, sem plástico a embrulhar. (Linda e imperfeita!)
Só tive pena de interromper o momento. Assim que se aperceberam que os observava, lançaram-me um olhar intimidado.
Agora já sabem que sou uma romântica incurável, mas não contem a ninguém! ;)

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sexta-feira, novembro 18, 2005



"O tempo não me diz nada
Nem o homem da portagem
À entrada da auto-estrada
A ponte ficou deserta nem sei mesmo
Se Lisboa não partiu para parte incerta.

Viva o espaço que me fica pela frente
E não me deixa recuar
Sem paredes sem ter portas nem janelas
Nem muros para derrubar."

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Entre as dúvidas do que sou e onde quero chegar
Um ponto preto quebra-me a solidão do olhar
Será que existe em mim um passaporte para sonhar
E a fúria de viver é mesmo fúria de acabar.


Talvez um dia me encontre! Assim talvez me encontre!

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sábado, novembro 12, 2005

(a fotografia foi retirada da galeria deste blog)
Tenho um Moleskine!

E então? Andei a chatear os meus amigos, alguns dos quais diziam, em seguida, mole quê? Mostrei a todos a maravilha da agenda, que é linda, que tem coisas extraordinárias como os tamanhos da roupa em diferentes países, que tem um bolsinho...
Enfim, é impossível reproduzir as caras das pessoas quando eles mostrava o caderno preto (tipo "tens um caderno, parabéns...").
....
Por isso hoje fui ver pessoas que compreendessem e até superassem o meu entusiasmo por moleskines, até tratam carinhosamente os blocos por 'skines! :)

Estão num blog (http://www.moleskinerie.com/). Partilham ideias, sentimentos, emoções...
Como diria uma amiga minha, tudo serve para escrevermos e partilharmos o que escrevemos. O moleskine é uma boa desculpa.

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sexta-feira, novembro 11, 2005

(Coimbra ao anoitecer, na varanda da minha casa)
"Come away with me in the night
Come away with me
And I will write you a song
...
Come away with me on a bus
Come away where they can't tempt us
With their lies
...
And I want to walk with you
On a cloudy day
In fields where the yellow grass grows knee-high
So won't you try to come"
Norah Jones

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sexta-feira, novembro 04, 2005



estive a rever os meus arquivos fotográficos e resolvi partilhar...

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quinta-feira, novembro 03, 2005

"Quando morrer, e a minha alma for convocada diante de Deus, um turbilhão de apoquentações e dúvidas tomará conta de mim. Nessa altura, imaginando o encontro com o Criador, tentarei antecipar as suas interrogações: “Zusya, porque não foste Moisés? Porque não foste Salomão ou David?” Mas, quando Hashem aparecer à minha frente, a sua única pergunta será bem mais simples: “Porque não foste Zusya?”

Rabino Zusya, citado na Rua da Judiaria (o blog do Nuno Guerreiro)